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Gastronomia
Se no passado as plantas silvestres foram usadas na alimentação por necessidade de subsistência, hoje algumas são consideradas iguarias e muito apreciadas. Das especificidades locais usadas na gastronomia, merecem destaque as plantas referidas de seguida.
- Os ranchões (Rapistrum rugosum), erva rasteira e de folhas largas que aparece com as primeiras chuvas de outubro. As folhas são cortadas como se faz à couve e cozidas em água e sal. Após a cozedura a água é escorrida. Depois é novamente adicionada água, acompanhada de azeite, alho e pimenta, indo ao lume. Os ranchões preparados servem de acompanhamento à escarpiada.
- As serralhas (Sonchus oleraceus) são utilizadas em salada. Após lavagem com água, as folhas são cortadas como se faz à alface e esfregadas de modo a se tornarem menos ásperas. Depois são temperadas com vinagre, azeite, alho e sal; servindo-se com bolo do caco e escarpiada.
- Os saramagos (Sinapis arvensis) são cozidos em água e temperados com sal, alho e azeite.
- O perrexil ou funcho-marinho (Crithmum maritimum) apanhado nas rochas da costa, é cozido com muita água, dando-se uma breve fervura. Depois de escorrida a água, são colocados em frascos, em escabeche, ou seja, em vinagre, pimenta, alho e sal. Na atualidade é utilizado como acompanhamento dos pratos de peixe, na sexta-feira Santa. Associado ao uso de plantas silvestres temos o consumo de peixe, como o atum e o gaiado, sendo este último muito apreciado, consumido grelhado ou em escabeche, depois de sujeito a um processo de salga e de seca utilizada pelos mais antigos.
A escarpiada, semelhante ao pão asiático, apresenta uma espessura fina, sendo confecionada com farinha de milho. O gosto por este tipo de pão terá sido introduzido pelos árabes. A farinha de milho, moída no passado essencialmente com recurso ao moinho de mão, era colocada num alguidar e amassada com água fria e uma “pitada” de sal. Untada a pedra (caco) com azeite ou banha de porco, quando quente, colocava-se em cima um pedaço de massa, achatando para ficar bem fina, voltando-se dum lado e do outro, para ficar lourinha, sem queimar. A escarpiada é usada todo o ano e come-se com gaiado, chicharros assados, salada de serralhas e lapas cruas. O bolo do caco do Porto Santo distingue-se do da Ilha da Madeira pelo facto de ser mais alto, maior e não levar batata-doce. O nome advém do facto de, originalmente, ser cozido em cima de um “caco”, ou seja, uma pedra.
As capelas são pão doce, que no Porto Santo tem o aspeto de uma capela, adquirindo por tal essa designação, sendo muito apreciadas por altura de São João e de São Pedro. Na doçaria são igualmente apreciados os biscoitos duros, de sabor salgado, as rosquilhas doces e as broas de mel, muito consumidas por altura do Natal.